sexta-feira, 31 de julho de 2009

Queimando Tudo


Capa do Live at Star Club

Depois do escândalo envolvendo sua vida pessoal e o casamento com sua prima de segundo grau, Jerry Lee Lewis sofreu uma espécie de suicídio cultural. Foi banido da memória musical da conservadora, bizantina e calvinista América dos anos 50. seus discos não eram mais produzidos, não mais vendiam e só tocavam no programa do mítico DJ Allan Freed, que foi o único do meio que abraçou a causa do cantor e pianista, nascido no sudeste dos Estados Unidos.

Lewis chamou a atenção por fazer uma espécie de crossover entre o country e o boogie, porém tocando de forma mais vigorosa e entusiástica. Além do mais, mesmo sendo convencido a desistir do piano e tocar guitarra, como todo mundo fez quando nasceu o rockabilly, Jerry Lee foi até o fim, com todas as forças.

O resultado é que ele conseguiu uma vaga como músico de estúdio na Sun Records. Tocou com Cash e Carl Perkins — o piano de Marchbox é dele. Ou seja, Lee praticamente foi um dos pioneiros na consolidação do instrumento dentro do rock.

Porém, Lewis foi julgado pela sua forma despojada de tocar e pela suposta lascívia de algumas letras, como Whole Lotta Shakin' Goin' On, o que era comum com boa parte dos roqueiros daquele tempo. Little Richard, que copiara o penteado igual ao do Esquerita (um topete do tamanho de um chapéu coco), provocava um misto de escândalo, pânico e frisson quando aparecia na tevê. Algo que, uma década e meia seria considerado, vamos dizer assim, antiquado.

Mas depois de 1958, Jarry foi banido da história. Conseguiu relativo sucesso com um cover de What'd I Say, de Ray Charles, porém cantando sob pseudônimo (The Hawk). Mas foi prontamente desmascarado e banido dos broadcastings de novo.

Contudo, enquanto a América lhe virava as costas (profetas são sempre rejeitados em sua terra), Jerry Lee passou a se tornar cultuado na Europa, especialmente Inglatera e Alemanha, a partir de meados dos anos 60. Isso possibilotou a ele uma nova turnê ao Velho Mundo, em 1964. Conseguiu um contrato para tocar no Star Club de Hamburgo. Recém inaugurado (em 1962) no Reeperbahn, região licensiosamente boêmia da velha cidade hanseática. Ali, ele travou contato com um dos muitos conjuntos britânicos que tocavam lá — os Nashville Teens.

Lee conseguiu um contrato com a Philips para transformar o show em disco. O que parecia apenas uma apresentação registrada ao vivo (algo que era mais comum em selos de jaz e de blues do que do rock) se tornou um dos maiores discos do gênero em todos os tempos. em treze canções, ele escreveu a sua profissão-de-fé.

Mesmo que aquilo soasse ultrapassado, ainda que a geração da British Invasion tivesse beatificado aquele som, Lewis mostrava que tinha pela noção de seu talento e da sua capacidade de se mostrar original, desafiador e às vezes até ligeiramente iconoclasta ao tocar seus sucessos de forma deliciosamente garageira, quando em geral se prezava sempre o bom mocismo musical.

Além das canções mais conhecidas(Whole Lotta Shakin' Goin' On, High School Confidential e Great Balls Of Fire), ele ataca com velhos (forma de dizer, já que não eram tão velhas na época) standards do rock, como Good Golly Miss Molly, Hound Dog, Matchbox e Long Tall Sally e toca até Hank Williams (Your Cheatin' Heart, em sua melhor versão, mostrando também suas influências do country), Ray Charles (What'd I Say) e uma versão irresistível de Money (That's What I Want), clássico dos primórdios da Motown, e que, naquela época, já fazia a cabeça da juventude dos anos 60.

E o interessante é que a linguagem dos Nashville Teens é um upgrade sonoro que catalisa o ímpeto de Lewis, num som mais cru e barulhento que as antigas versões da Sun, mais contidas e com menos percussão. No fim, ele toca aquelas mesmas canções porém com uma vitalidade e energia fora do comum.

Jery Lee foi (justmente ou injustamente?) execrado e banido por sua música e sua conduta numa época e num contexto histórico que não demorou a ruir por suas próprias contradições. Mas os deuses do rock lhe compensaram tamanha injustiça, lhe concedendo a vida eterna.








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Um comentário:

Anônimo disse...

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