terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

The Birth Of Trojan: Duke Reid Rocksteady


A capa

The Birth Of Trojan: Duke Reid Rocksteady é uma coletânea de 2002, focada exclusivamente na viagem músical empreendida por esse produtor de música jamaicana dos anos 60. O rocksteady foi um ritmo que existiu nesse país entre dois períodos bem distintos: o ska do tempo dos rude boys e as produções sofisticadas do reggae, a partir dos anos 70. O estilo surgiu, lá por 1964, como uma alternativa ao ska, que era muito mais uma dança de salão.

Ao contrário, o Rocksteady era mais lento, possuia um naipe de matais maior e músicos que trabalhavam mais o lado instrumental das canções do que simplesmente o ouriço do ballroom dancing da época dos sound systems.

O irônico é que muito do que foi elaborado durante o período do rocksteady influenciaria de forma seminal o reggae. Contudo, ao contrário deste, ele não conseguiu a mesma projeção fora da Jamaica. Até mesmo porque muito das produções como as da Trojan — embora este selo tenha sido o primeiro passo para a internacionalização desse tipo de som, depois da Island Records, a partir da Inglaterra, por exemplo, o rocksteady era um ritmo caseiro, sem a pretensão de sair desses domínios.

O que seria uma grande injustiça com um punhado de artistas e produtores musicais que, de forma quase artesanal, colhia fogos de abrolhos para criar uma cena músical, pelo menos do ponto de vista fonográfico. Nesse senmtido, a maioria dos cantores e músicos eram, a rigor, investidos em produções de singles, e muito desse material se esgotaria depois que o reggae ganhou o mundo, primeiro com Desmond Dekker e, depois, com os Waillers.

O ofício de Duke Reid, por exemplo, era catapultar um elenco de artistas que eram relativamente populares na Jamaica. Muitos, como Tommy McCook, tenha influência direta de Coltrane. Outros, como os músicos de Dobby Donson e Freddie McKay (naturalmente sob a batuta de Reid), estabeleceram uma linguagem sonora emoldirada por linhas complexas de contrabaixo — algo que floresceu no rocksteady e foi parar, por exemplo, no estilo de Aston "Family Man" Barrett.

Duke começou na época dos sound systems, carros de som que eram verdadeiras emissoras de rádio peripatéticas. Nos anos 60 é que ele se estabeleceria como produtor, tendo como referência direta o soul norte-americano. Por conta disso, muito do que seus artistas interpretava, eram, em geral, covers obscuros da Motown. Perfeccionista, ele sempre trabalhou com lavor de joalheiro nos arranjos das canções — algo quer contrastava muitas vezes com a qualidade sonora das gravações.

Hoje, claro que existe um certo charme fetichista em ouvir aqueles temas originalmente mixados como compactos. E, nessa coletânea, isso é evidente. sir Don, com Tommy Mc Cook & The Supersonics, é genial no sentido de ser possível imaginar que existia uma virtude musical ligeiramente subestimada num país de terceiro mundo.

Uma das estrelas da Trojan, Phyllis Dillon, é um exemplo de artista subestimada. Influenciada por Dionne Warwick, é uma pérola perdida em temas como Leaving In The Hands Of Love. Seus duetos com Oliver St. Patrick são memoráveis. O próprio Oliver,por sua vez, assim como Alton Ellis é um excelente crooner para canções românticas, como I Want To Be Loved, que é uma baladona soul de se escutar de joelhos. Ellis chegou a fazer sucesso fora da Jamaica, e teve uma carreira longa, ao contrário da maioria daqueles intérpretes hoje obscuros. Duke tinha a sua própria banda, os All Stars, e seus arranjos mostram o melhor do bom humor típico do rocksteady, despojado e inteligente.

Outro lado curioso do rocksteady instrumental são brincadeiras com temas conhecidos, como Roland Alphonso & The Supersonics tocando Never To Be Mine, que é nada mais nada menos que O Sole Mio. Cornet Rock Steady é A Di La. Starry Night, com McCook no sax tenor, é um improviso em cima daquele famoso tema do primeiro movimento da Sinfonia Patética, do Tchaikovsky. O resultado é excelente.

O rocksteady é algo tão fanscinante que não poderia durar muito. Há quem diga que o nome não ajudou em sua perpetuação; há quem diga que o fator preponderante foi o sucesso de Dekker e de Jimmy Cliff como ícones de algo que era substantivamente tributário desse gênero, mas que, ao contrário dele, tinha um conteúdo menos romântico e escapista em favor de letras militantes que iam de encontro com a filosofia Rastafari. Resumindo mal, a diferença entre os dois residia na linguagem. ao mesmo tempo, tanto a Trojan, como subsidiária da Island, passou a promover bandas que tinham ligação com o Rastafari — mais precisamente gente como Cliff, os Upsetters e, por fim, Bob Marley e os Waillers.

Com uma distribuidora na Europa e com uma pós-produção como a de Chris Blackwell, buscando uma cara mais cognata à do rock, a música jamaicana enfim iria atingir outros mercados, como o norte-americano. E foi o que aconteceu. Em 72, quando The Harder They Come virou sucesso, o rocksteady já era passado. De forma esporádica, gravadoras que adiquiriam os direitos da Trojan ou de outros selos, lançavam coletâneas — muitas vezes ripadas diretamente dos elepês, pois muitos dos masters haviam sido apagados ou perdidos.

No caso desta, Duke Reid Rocksteady não foge á regra. O som das faixas é digitalizada do vinil, o que acarreta numa certa perda de qualidade. Mas no fim, restitui à posteridade um gênero musical que o mundo esqueceu.


Link nos comentários.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Time Fades Away


O clássico

A história de Time Fades Away, lançado por Neil Young no auge do seu sucesso após o êxito comercial de Harvest, é bastante peculiar. Começa pelo fato de que, a fama inesperada o obrigou a novamente cair na estrada. No entanto, ele estava mais disposto a estabelecer um set list de canções ainda inéditas que o cantor canadense tinha a intenção de editá-la em disco, mesmo já havendo um registro ao vivo da turnê de 1971 (de onde saiu a gravação den The Needle and the Damage Done.

Desse vez, Neil ia encarar a platéia com novas canções, e com outra banda que não o Crazy Horse, o Stray Gators. O público não entendeu o repertório e muito menos a mudança na sonoridade da banda. A pressão fez com que o baterista Kenneth Buttrey deixasse os Gators em favor de Johnny Barbata, ex-CSNY.

Além desses problemas nada fortuitos, Young teve que aguentar a birra de Jack Nietzche, que seguidamente se exasperava ante a platéia confusa que se punha aprotestar por conta do repertório. Fora as bebedeiras do steel guitar, Ben Keith, que às vezes nem se lembrava qual instrumento ele havia tocado no ensaio. O próprio Young enfrentyou problemas com a bebida, fato que fez com que a sua voz, ao final da turnê, ficasse afetada por uma inflamação na garganta.

Neil havia desenvolvido depressão por causa de Danny Whitten, que ele viu definhar com o uso indiscriminado de heroína, o que le levou à moete prematura. O compositor de Tell Me Why também entraria numa fase sombria de sua vida, cujas letras refletiam muito de suas angústias naquele momento histórico de sua carreiura musical. E o Time Fades Away, junto com On The Beach e Tonight Is The Night iriam fazer parte de uma trilogia, a Ditch Trilogy, marcado pelas letras tristes e extremamente autobiográficas.

Neil precisou pedir ajuda de David Crosby na guitarra, mas isso só gerou atritos entre os dois e Jack, que reclamava que o instrumento do ex-Byrd cobria o som do dele. Em 19 dias, a turnê malfadada acabava de forma melancólica.

Time Fades Away, lançado em 73, saiu logo de catálogo. Young sempre expressou sua especial predileção por esse elepê, mas achava que as canções e o que ele julgou como a péssima qualidade das interpretações dos músicos, a despeito de ser, como ele assevera, um documentário vivo do que foram aqueles anos para ele, ser algo indigno de ser recatalogado.

O resultado é que o disco, que é um dos melhores álbuns ao vivo da história do rock, desde a primeira prensagem, ficou fora de catálogo. Muitas prensagens em formato bootleg se sucederam, mas oficialmente Time Fades Away nunca foi lançado em formato digital; muitas das versões existentes em Mp3 são meras ripagens de material analógico.

Coletâneas do cantor também passam longe das faixas do disco, que é quase obscurecido pela sua pretensa (falta de) grandeza — já que, ao contrário de Harvest, ele não foi bem recebido por crítica e público na época, fato que deve ter contribuído para a decisão de Young em refugá-lo de forma tão irracional e injusta.

Mas o disco, ao contrário de julgamentos dessa natureza, é um registro indelével de Young em sua fase mais criativia e expressiva, com momentos geniais, como em L.A, The Bridge, Yonder Stands the Sinner, a lírica Love In Mind e a angustiante Journey Trough The Past.




Link nos comentários.