sábado, 16 de fevereiro de 2013

On the Beach


A capa


On The Beach é um mistério. Como um disco tão genial e, sem sombra de dúvida, a obra-prima do compositor canadense Neil Young foi tão subestimado por seu autor, a ponto de permanecer esgotado por quase trinta anos? A questão é que ele só foi digitalzado e relançado porque seus fãs enfiaram um abaixo-assinado goela abaixo da Reprise, para que o clássico dos clássicos do autor de Cinnamon Girl voltasse às pretaleiras. On The Beach é um enigma. O disco, lançado em 74, foi gravado depois do sombrio Tonight Is The Night, mas lançado antes, porque os executivos de sua gravadora acharam que ele seria um fiasco comercial. De fato, os dois acabaram realmente passando batidos naquele momento histórico que, paradoxalmente ou não, foi a fase mais criativa de Neil — para quem achasse que ele seria capaz de superar os tempos da parceria com David Crosby e companhia. Para ele, com efeito, eram tempos sombrios: ele passou pela morte de dois de seus companheiros Danny Whitten, do Crazy Horse, e o roadie dele e dos CSNY, Bruce Berry — ambos de oversose de heroína. O impacto da perda de ambos (praticamente em sequência) é mais evidente em Tonight Is The Night; contudo, On The Beach acabou entrando naquela que seria chamado de The Ditch Trilogy por estaram interligados tanto por sua temática sombria quanto pela lucidez de suas letras, como se a tragédia fizesse com que Neil Young repassasse sua vida e carreira naquele pós-apocalipse que foi o corolário da geração Woodstock — um idealismo que se transformou num retorno ao cotidiano. Isso é exemplar na letra de Walk On, por exemplo, onde ele sente que estava no termo daquela fase do "everybody's must be stoned". Vampire Blues é um escrache com a macabra corrida do ouro da indústria petrolífera (que quase provocou um strike do mercado fonográfico análogo ao de 1942 por causa da Crise de 1973). On The Beach é um blues onde ele expressa o sentimento contrário de precisar de seu público e, ao mesmo tempo, ter horro a enfrentá-lo. Em parte, segundo depoimento do próprio compositor à Cameron Crowe à época, aquilo era em parte reflexo do momento em que ele demitiu Whitten do Crazy Horse e, numa progressão fulminante, no momento em que iria sair em turnê, em 1972, soube da morte de Danny e, sentindo-se culpado, teve que enfrentar o palco diante de uma crise existencial sem precedentes. On The Beach é um disco de histórias, mas também é multifacetado em sua concepção musical: parece repassar vários momentos de várias sessões de gravação diversas, passando por músicos de todos os naipes, e de fato isso é verdade. Young teve a colaboração tanto dos seus colegas do CSNY, Graham Nash e David Crosby quando dois dos membros da The Band, Levon Helm, na bateria e Rick Danko, no baixo, em Revolution Blues. Curioso é ver que tanta genialidade acabou não tendo o seu galardão ems eu tempo. Muita água iria correr até que a trilogia sombria de Young — completada pelo ao vivo Time Fades Away que, assim como On The Beach, amargou anos de esquecimento desde que foi lançado, em 73, cujo algoz foi seu próprio intérprete, que não quis relançá-lo e negligenciou-o por décadas. Link nos comentários.