terça-feira, 10 de novembro de 2009

Summer In The City


O disco


Há exatos quarenta e três anos, o Lovin' Spoonful lançava a sua obra-prima, o Hums Of Lovin' Spoonful, que seria o seu maior êxito comercial, além do fato que o single do disco, Summer In The City, foi o primeiro e único número 1 nas paradas norte-americanas. O álbum também representou o ápice criativo do quarteto, formado por Zal Yanovski e John Sebastian, no começo de 1965 e que, em pouco tempo, junto com bandas como Beau Brumells, Rascals, Byrds e outros, representou uma espécie de resposta ianque à Invasão Britânica.

Contudo, mais do que isso, a tal resposta musical também seria um retorno às raízes do rock que havia sido negligenciado por todo o começo da década de 60, e que veio com toda a força na versão britânica. O papel das bandas americanas, por sua vez, era a de ratificar isso ou, como diria Bob Dylan, trazer tudo de volta para casa.

O diferencial do Lovin' Spoonful é que o líder da banda, John Sebastian, cresceu no tempo dos saraus acústicos em Washington Square, em Nova Iorque, na época do renascimento do folk. seu pai era um músico do gênero e conviveu com muitos dos músicos da velha geração que cultivava bluegrass e música rural. assim como eles, sebastian criou gosto por isso e com Yanowski, guitarista tão bom quanto subestimado, ele pôde dar vazão á idéia de mistura o espírito desasombrado e burlesco das jug bands com o rock dos Beatles, que ele viu quando os Fab Four se apresentaram no Ed Sullivan, em 1964.

Contratados pela Kama Sutra, um selo alternativo de NY, o Lovin' Spoonful, com a adição de Joe Butler (vocal e bateria) e Steve Boone (baixo), gravaram dois discos excelentes, que iam, de forma inteligente e simples, do folk rural ao good time rock, emplacando sucessos como Do You Believe In Magic, You Baby, Did You Ever Have To Make Up Your Mind? Daydream, You Didn't Have to Be So Nice e Younger Girl.

Hums Of Lovin' Spoonful é, pois, o ápice da experiência do Spoonful em amalgamar várias tendências da música americana dentro do rock — inclusive o country — muito antes dos próprios Byrds, que chegariama esse turning point no Notorious Byrd Brothers.

Outro ponto interesante do álbum é ver que, pela primeira vez, ele é composto basicamente de músicas próprias, trafega por estilos diversos e pôe a prova a versatilidade de Yanovski como (subestimado) guitarrista. Abre com Sittin' Here Lovin' You, um fox com sabor de vaudeville, e que foi gravado até pelo Bobby Darin; Bes' Friends é o típico exemplo de música de jug band: rústica, indisfarçavelmente cômica e com acompanhamento de clarinete. Eles voltam par o rock com Voodoo In My Basement e Sebastian aparece com a flavoured country Darlin' Companion que, dois anos mais tarde, entraria para o repertório de ninguém menos que Johnny Cash, no clássico At San Quentin.

Henry Thomas é outra incursão pelo estilo jug band, e é uma homenagem a um dos pioneiros do gênero (Henry Thomas), autor de Fishin' Blues, que eles também gravaram, no primeiro LP. Full Measure é a deixa para Butler cantar o seu tema no disco (parceria dele com John); Rain On The Roof, uma balada doce e simpática tocada com um violão de 12 cordas e uma harpinha, dando um ar barroco à música, se tornaria outro clássico dos spoonfuls.

Coconut Grove é uma baladinha ligeiramente maliciosa, composta por John e Zal; Nashville Cats, outro clássico da banda, foi uma tentativa de Sebastian em tentar atingir a seção country da Billboard. Pagou o proço de tamanha ousadia mais por ser o pioneiro, mas o resultado é extraordinário: é uma das melhores do disco — principalmente pela introdução feita por Zal numa Telecaster, imitando o estilo de Luther Perkins, o mitológico guitarrista do Johnny Cash.

Se 4 Eyes é uma incursão, e a última no disco, dentre tantas, dessa vez pelo blues, a faixa que encerra o Hums é difícil de classificar — aliás, pode-se dizer que ela foga totalmente ao estilo da banda e é a mais peculiar de todo o repertório do Lovin' Spoonful.


O compacto

O texto de Summer In The City era originalmente um longo poema impressionista beat do irmão de Sebastian, Mark, que ele escreveu para um concurso de Letras. John pegou o texto e o modificou em alguns versos, a ponto de poder pôr-lhe a música. Para o aranjo, eles decidiram utilizar dois órgãos, um Hohner Pianet (tocado por John) e um Vox Continental (que Boone, que criou o interlúdio, o baixo).


Hot town,
summer in the city
Back of my neck
getting dirty and gritty
Been down,
isn't it a pity
Doesn't seem to be
a shadow in the city

All around,
people looking half dead
Walking on the sidewalk, hotter than a match head]

But at night it's a different world
Go out and find a girl
Come-on come-on and dance all night
Despite the heat it'll be alright

And babe, don't you know it's a pity
That the days
can't be like the nights
In the summer
in the city
In the summer
in the city


Summer In The City chegaria ao topo da Billboard e, de quebra, como não poderia deixar de ser, seria o hino do verão (americano) de 1966.


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sábado, 7 de novembro de 2009

A Day In a Life


A capa


O Moody Blues é uma daquelas bandas de R&B britânicas do começo dos anos 60 que eu conhecia só de nome e que tinha dificuldade em encontrar algum disco dela. Um exemplo é o primeiro álbum deles, o The Magnificent Moodies, que eu só conheci muito depois do advento do CD. Isso que, no começo, eles eram realmente uma straight band ao estilo dos Small Faces ou dos Beatles, ligados ao som da British Invasion. Isso que, nessa primeira fase, além do Mike Pinder, Graeme Edge, Ray Thomas, eles contavam com o Denny Laine,que depois, nos anos 70, integraria o Paul McCartney & Wings.

Mas eu falava que eu então conhecia de longe o Moddy Blues e não liguei o nome à música estritamente até que viciei numa versão obscura de Nights In White Satin, gravada pelos brasileiros dos Baobás, num também obscuro disco de 1968. Achava essa canção sensacional, mas não sabia nem que ela era um dos — senão o — maior clássico da banda de Pinder nem que ela encerrava de forma brilahnte um dos maiores álbuns dos anos 60 — o mítico Days Of Future Passed.

A história do disco começou quando um produtor da Decca Records, Hugh Mendl, convidou o Moody Blues a entrar para a nova subsidiária da gravadora, a Deram. O objetivo principal do novo selo era lançar projetos alternativos de easy-listening, com produções sofisticadas e alta tecnologia de gravação, especialmente destinado a um público especializado.

O projeto incial de Mendl com Pinder & companhia era fazer com que a banda fosse solista de um concerto com uma orquestra sinfônica para criar uma versão pop da Sinfonia em Mi Menor, Op. 95 do compositor tcheco Antonin Dvorak, conhecida como a "New World", composta em Nova Iorque, em 1893.

A banda declinou gentilmente da idéia, mas sugeriu à Deram para que eles tivesem pleno controle do projeto, e convenceram o maestro da London Synphony Orchestra, Peter Knight, a criar uma particura especial para um projeto particular deles — e ele topou. Os executivos do selo, que à principio estavam céticos quanto à viabilidade comercial do trabalho, resolveram botar fé nos rapazes: fato é que, depois do sucesso tremendo que foi a hibridização musical de material erudito com o rock, no então recém consagrado Sgt. Pepper's, dos Beatles, pasaram a crer que o Moody Blues poderiam fazer o seu Pepper's.

E assim se deu. O roteiro de Days Of Future Passed é, mais ou menos no estilo de Ulysses, de James Joyce, a história de um dia na vida de um sujeito, desde o amanhecer até a noite, quando ele chega só em casa. Ao contrário de outros trabalhos, menos coesos, o disco do Moody Blues é compacto e bem enfeixado. Por exemplo, a abertura do álbum, The Day Begins, tem, na introdução, trechos de temas musicais que serão retomados nos movimentos seguintes — no mesmo estilo do leitmotiv das óeras de Richard Wagner e Carl Weber.

Dawn - Dawn Is A Feeling começa com um tema pastoral na orqueatra, até a canção filosófica; sempre ao cabo de cada música, a orquestra responde a mesma melodia, sob a forma de interlúdio, até se interligar sutilmente com o tema seguinte. The Morning - Another Morning se inicia numa marcha conduzida pelas flautas, onde a banda entra em resposta e, na coda, o tema prioncipal da marcha perpassa por todas as seções da orquestra, metais, madeiras.

Lunch Break - Peak Hour, a mais roqueira do disco, não orquestrada, é total e completamente influenciada pelo The Who. The Afternoon - Forever Afternoon (Tuesday) se destaca pelo largo uso do mellotron, instrumento que Pinder foi pioneiro em trazê-lo para o rock. Evening - The Sun Set - Twilight Time é quase uma pequena suíte em concerto dentro do disco, onde a orquestra — que faz o ritornello no fim, aparece de forma mais discreta, em favor de teclados e o coro.

O disco finalmente termina com The Night - Nights In White Satin, a piece de resistance do álbum, ia se tornar um sucesso em single tempos depois do seu lançamento, em 1972. A questão é que, quando o disco saiu, em novembro de 1967, não era comum que bandas de rock pop se ariscassem a editar compactos com mais de três minutos. Só depois de experiências como Like a Rolling Stone, Hey Jude e Layla que isso deixou de ser exceção e se tornou regra.

Cinco anos depois, a melancólica Nights In White Satin foi relançado em single e chegou ao primeiro lugar nas paradas da Billboard — se tornando um dos grandes clássicos do rock. No entanto, uma versão breve saiu em 68 e se saiu relativamente bem, cheganndo ao vigésimo lugar nas paradas britânicas, rendendo um clipe promocional, sem a parte da orquestra.


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