terça-feira, 7 de julho de 2009

Wagner Para Crianças


Spector e o Back To Mono

O período entre 1959 e 1964 foi conhecido na historia da música como os anos em que o “o rock morreu”. Desde o desaparecimento trágico de Buddy Holly até a Invasão Britânica, houve um hiato de cinco anos em que as guitarras calaram. Como se sabe, o gênero não morreu de todo, mas estava apenas se preparando para as boas vindas, quando os Beatles aterrisaram pela primeira vez em Nova York.

Naquele intervalo, porém, surgiu um fenômeno típico do começo dos anos 60 – era o tempo do “doo up” e das “girl groups”. Mesmo que hoje soem kitsch, como que “de época”, esse estilo idílico e romântico (que também surgiu com o advento da Motown), fez a carreira de compositores célebres como Carole King e produtores idem como Phil Spector.

Como arranjador, ele surgiu como um furacão avassalador, legando à posteridade clássicos como “ Be My Baby” e “ You've Lost That Lovin' Feelin'” e criando uma especialidade de registro sonoro artesanal que deixou centenas de seguidores, o famigerado “wall of sound”. Já o melhor da sua produção (basicamente singles) está na caixa Back To Mono (1958-1969).

Hoje habitué de páginas policiais, Spector começou como integrante dos Teddy Bears, em 1958. Cedo abandonou os mocrifones em favor da sala de controle. Por ter ouvido perfeito, como aprendiz de Jerry Leiber e Mike Stoller em Nova York, ele passou a desbravar todas as possibilidades de um estúdio de gravação, fazendo arranjos para dezenas de artistas. Nessa fase ele produziu compactos para gente como La Vern Baker, Ruth Brown, Top Notes (que criaram “ Twist And Shout”), Billy Storm.

Também surgiram clássicos como “ Spanish Harlem” (Ben E King), “On Broadway” (Drifters), “ Corrina, Corrina” (Ray Peterson) e “ Pretty Little Angel Eyes” (Curtis Lee).

De volta à Los Angeles, em 1961, ele vira um intrépido freelancer, trabalhando em selos como Liberty ou Capitol, com a ajuda de Lester Sill, o empresário que o apresentou a Leiber e Stoller.

Nessa época, eles se unem na Phillies (junção de seus nomes), dirigida por ambos, e Spector trabalha em sua própria gravadora, enquanto presta serviço à outras. Para a Phillies ele produz Ducanes, The Creations e Crystals; por fora, ele trabalha com Connie Francis, Gene Pitney e The Blue Jeans, entre muitos outros. Nas paradas de sucesso, ele quase sempre batia na trave, até chegar ao segundo lugar em 1963 com “ Be My Baby”, interpretado pelas Ronettes.


Phil Spector e a Parede -
Por trás da belíssima voz de Veronica Bennett (ou Ronnie Spector), “ Be My Baby” foi um marco nessa trajetória e escancarou uma revolucionária e artesanal técnica de estúdio, que Spector utilizava desde que conheceu o Gold Star, em Los Angeles: a “ parede sonora, ou “Wall Of Sound”. Ali Spector observou todas as possibilidades de usar as cãmaras de eco.


Estella, Veronica (Ronnie) e Nedra: as Ronettes

Ele teve a idéia de passar o som do estúdio de gravação para essas câmaras, provocando um reverberar que reforçava e emoldurava o som original que, dali, ia direto para a sala de controle. Assim, a “ Parede Sonora” lhe permitiu trabalhar diversas possibilidades de montar a música, ao mesmo tempo que ele experimentava naipes de cordas e metais misturados com instrumentos simples de percussão, como castanholas, ou sinos, reco-recos e carrilhões. Tudo isso embalsamado pelo eco característico das câmaras do estúdio.

Mais do que mero capricho ou fetiche, a “ Wall Of Sound” se tornou uma marca registrada: a qualidade do registro tenha uma fidelidade melhor do que o Hi-Fi quando emitida no rádio.

Logo, não seria difícil reconhecer uma gravação típica de Spector, que saía rachando dos speakers, retumbante como um tutti de uma abertura de Richard Wagner. Aliás, era justamente esse o impacto que ele queria: criar o contraste da simplicidade da música ligeira com a nota complexa da orquestra, e a percussão ora leve como palmas solitárias ou o estrondo grave de tímpanos.

Wanger para crianças - O compositor Jeff Barry, que trabalhou com Phil Spector, definou a “Wall Of Sound” como uma fórmula tão básica quamnto bombástica: quatro ou cinco guitarras, uma orquestra de cordas, dois contrabaixos, seis ou sele trompetes, tímpanos, sinos, maraca e pandeiro. “Phil tinha a sua própria receita para o eco, em alguns arranjos fora do tom com as cordas, mas em geral o segredo era a fórmula do arranjo”, diz.

Essa técnica também podia ser representada como o contraste entre a voz nua e crua em concerto com uma hercúlea base sonora – ou, como ele mesmo definiu, “uma sinfonia de atmosfera wagneriana para crianças ouvirem”.

Talvez a magna expressão desse paradigma spectoriano e de seu respectivo processo de gravação está na fantástica “ You've Lost That Lovin' Feelin”, dos Righteous Brothers (e que abre o CD 3 de Back To Mono).

Spector conheceu a dupla (Bill Medley e Bobby Hartfield) em 1965, e os contratou para gravar na Phillies. “ You've Lost That Lovin' Feelin” chegaria ao primeiro lugar nas paradas, e lançaria a dupla também com sucessos como “ Just Once In My Life”, “ Unchained Melody” e “ Ebb Tide”.

Nessas gravações, e principalmente em “ You've Lost That Lovin' Feelin”, Phil insere um gigantesco coro celestial, maracas e pandeiro em reverber, mais vibrafones e harpiscórdio – uma pequena obra-prima.

A partir dali, a indústria fonográfica não seria mais a mesma: outros produtores adotaram a técnica de Spector, ou então perceberam que esse trabalho de fundo dava mais visibilidade aos discos.

A própria Capitol criou, anos mais tarde, o “New Improved Full Dimensional”, um processo mecânico que melhorava a mixagem dos fonogramas, e que se tornou mania entre os colecionadores de discos até hoje. Outros literalmente usavam os estratagemas do criador de “To Know Him Is To Love Him”: Johny Rivers tenta recriar a mesma atmosfera da parede sonora em “Baby, I Need Your Lovin'”, só para ficar em um exemplo.

Mais: “ Be My Baby” virou a cabeça de Brian Wilson. John Lennon e George Harrison estenderam um tapete vermelho para o produtor, que trabalharia com ambos no começo de suas carreiras solo – não sem antes embalsamar o canto do cisne dos Beatles com o seu “ Wall of Sound”, o Let It Be.

Há quem diga que Paul McCartney não gostou do resultado, mas ele utilizou o arranjo de “ The Long And Winding Road” em suas turnês, nos anos 90...

Apesar do sucesso, depois de “ You've Lost That Lovin' Feelin”, Spector cansou do ofício de produtor, abrindo raras exceções. Como ele mesmo dizia, seu negócio era fazer compactos em mono. Antes dos Beatles, ele só havia trabalhado em um álbum, a coletânea A Christmas Gift To You.

De qualquer maneira, o recado estava dado: o melhor de sua música está nas sessenta músicas do mosaico de Back To Mono – desde e época dos Teddy Bears, passando pelos primeiros discos, como a linda “ I Love How You Love Me” (Paris Sisters), “Zip-A-Dee-Doo-Dah” (Bobby Soxx And The Blue Jeans) , “ Heartbraker” (Crystals), “ I Love You (For Sentimental Reasons)” (Righteous Brothers), “Wait Till My Bob” (Darlene Love) e “Hold Me Tight” (Treasures, cover dos Beatles), até “Save The Last Dance For Me” (Ike & Tine Turner). Enfim, do tempo que Phil Spector era barra limpa.

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Um comentário:

Anônimo disse...

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