domingo, 5 de julho de 2009

Clapton, calças boca-de-sino, canções de amor & outras questiúnculas


O disco

Se Clapton foi Deus, um de seus maiores momentos de divindade foi num disco chamado Layla And Other Assorted Love Songs.

Sua história, no entanto, é bastante rocambolesca. Eric havia deixado o Cream em 1968, farto de ter que mediar as brigas entre Ginger Baker & Jack Bruce. Sozinho novamente, ele resolveu convidar outro ilustre desgarrado, Steve Winwood, que havia deixado o Traffic. Juntos, decidiram formar uma (outra!) super banda que misturasse blues em improvisações jazzísticas.

Com a idéia de conceber um quarteto, contataram Ric Grech, do Family e Ginger Baker. Clapton não tinha a intenção de reatar com o ex-colega tão pouco tempo depois da tensa e tumultuada separação; contudo, o timorato Steve o convenceu que, por sua técnica ímpar, Baker seria essencial nos planos do grupo recém formado.

O projeto, porém, como não poderia deixar de ser, durou pouco menos de um ano (cerca de quatro meses, nem isso), & rendeu uma turnê nos Estados Unidos e um disco (que o ilustre leitor deve também deve ouvir antes de morrer, embora este não conste na lista dos 1001).

O Faith, como qualquer banda claptoniana, nasceu para ter vida breve: acabou no fim de 1969. Foi nesse período que Eric decidiu participar de projetos aleatórios como side man band, como a Plastic Ono Band e da Delaney & Bonnie and Friends (que abriam os shows do Blind, junto com o Free), até que, depois de algum tempo, ele acabou optando por colaborar efetivamente com a turma de Delaney. Foi ali que Clapton conheceu o tecladista Bobby Whitlock, que se tornaria seu parceiro musical nos anos seguintes, primeiramente nas sessões de All Things Must Pass, o segundo álbum de George Harrison (o primeiro foi Wonderwall, de 1968), e depois no primeiro solo de Eric, de 1970.

Nesse período, o guitarrista inglês começou a se entregar a dois vícios avassaladores em sua vida: a heroína & a pior delas, uma modelo inglesinha na flor do tesão, Patti Boyd, porém dedicadíssima esposa do seu melhor amigo e parceiro musical (Badge), o discretamente nirvânico ex-beatle George. Pois conhecê-la foi como um cofre de repente caísse em sua cabeça: Clapton se apaixonou perdidamente pela moçoila, a ponto de uivar noites e noites para a lua de tantas saudades.


Com vocês, Layla

Foi um TENSO amor de perdição: ele a cortejava, dardejava olhares mortíferos, mandava cartas, lhe dava mimos. Ele não sossegaria enquanto ela não correspondesse aos seus arrufos. Pois nesse clima idílico que nosso herói, junto com Whitlock — mais Jim Gordon (bateria e piano) e ninguém menos que o virtuose slide guitar Duane Allman resolveu fundar outra banda, Derek And The Dominos. À princípio, o que ele tinha em mente era tão somente criar um repertório novo para tocar em pequenos clubes ingleses, junto com alguns covers de blues. A idéia iria render frutos suficientes para que o grupo fosse parar no estúdio.

Noves fora, tirando números magistrais como uma emocionante versão de Little Wing, de Jimi Hendrix, Key To The Highway ou Nobody Knows You When You're Down And Out, Layla And Other Assorted Love Songs é uma linda e comovente declaração de amor a Patti Boyd. Ela é o seu mot de spirit, seu combustível vital, sua razão de viver; ela aparece nas letras o tempo todo: em Tell The Truth, ele diz: “não importa onde você está ou quem você é, abra seus olhos e ouça o seu coração”, ou em Why Does Love Got To Be So Sad (“não sou o mesmo desde que te vi (...) começo a ver o tolo em que você me transformou, preciso rasgar as leis quando eu te encontrar”). Há ainda momentos escandalosamente autobiográficos, como Have You Ever Loved A Woman (“você sabe que ama aquela mulher, sabe que é vergonhoso & é pecado, & o tempo todo você sabe que ela pertence ao seu melhor amigo”), a belíssima Bell Bottom Blues (que se refere às calças boca-de-sino, o último grito da moda ianque, mimo que ele deu para Pattie quando ele voltou dos Estados Unidos.

A linda e triste e subestimadíssima I Looked Away, que é beleza pura (“ela pegou em minha mão e me fez compreender que estaria sempre perto de mim, mas ela foi embora hoje e eu sou um homem solitário”). &, por fim, é claro, a preferida de nove entre dez claptonmaníacos — Layla, que além de escrever especialmente para a esposa do seu melhor amigo, Clapton, como uma pedra rolante em sua desmesurada paixão, doente e perdidamente louco de tanto amor, ainda teve o disparate de mostrar a gravação para ela, em primeira mão.

Disse a doce e compassiva Pattie em suas memórias: “nós nos encontramos em segredo em um apartamento em [South] Kensington. Eric Clapton me pediu para ir para escutar uma nova música que ele havia escrito. Ele ligou o gravador, aumentou o volume e tocou para mim a música mais poderosa e tocante que eu já havia escutado. Era “Layla”, sobre um homem que se apaixona perdidamente por uma mulher que o ama, mas não está disponível.

Ele tocou para mim duas ou três vezes, olhando meu rosto a todo momento para ver minha reação. Meu primeiro pensamento foi: “Oh Deus, todo mundo vai saber que é prá mim”.

Era o primeiro capítulo de uma novela que estava apenas começando...

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Um comentário:

Anônimo disse...

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