sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Ferry Cross The Mersey
Esse é o nome do filme e da trilha sonora original (foto) de mesmo nome — aqui no Brasil, a película foi solenemente intitulada de Os Frenéticos do Ritmo. O musical é estrelado por um quarteto de Liverpool, Inglaterra: Gerry And The Pacemakers. Eles surgiram bem na mesma época dos Beatles, e chegaram a dividir o palco com eles diversas vezes, antes do advento da Beatlemania.
Formado originalmente por Gerry Marsden (guitarra e vocal), Freddy Marsden (bateria), Les Maguire (piano) e Les Chadwick (baixo), eles estouraram nas paradas britânicas um pouco antes dos Fab Four. Também empresariados por Brian Epstein, eles gravaram uma canção (de Mitch Murray), chamada How Do You Do It, que foi recusada pela banda de John Lennon. O compacto foi primeiro lugar. Na sequência, eles enfeixaram mais dois: Away From You e I Like It.
Com isso, se tornaram celebridades da noite para o dia, puderam lançar um álbum — o How Do You Like It? — e conseguiram passagem reservada na Invasão Britânica. Catapultados ao estrelato e com visibilidade nos Estados Unidos (apareceram no Ed Sullivan Show), sob os auspícios do intrépido Epstein, depois dos Cavaleiros de Sua Majestade Britânica, eles foram convidados pela United Artists a estrelarem um longa.
Tanto o filme quanto o disco, aqui no Brasil, são muito difíceis de se encontrar. Como os dois únicos discos do Gerry And The Pacemakers aqui foram lançados pela Fermata, uma subsidiária da Odeon, depois que ela fechou, os fonogramas foram todos para o arquivo morto, e os dois discos estão esgotados há mais de quarenta anos.
Eu cheguei a topar em sebos todos os LPs dos Pacemakers lançados aqui, em 1964 e 65, respectivamente. A Fermata era uma liliputiana subsidiária da Odeon e que não tinha o mesmo approach mercadológico da irmã mais velha. Além disso, tinha em seu cast artistas quase obscuros ou subestimados pela Odeon. Para piorar, a qualidade da prensagem dos discos era inferior à da Odeon, mais parecida com a da Victor brasileira, ou seja, de qualidade de som regular prá ruim. O incrível é, depois de passar anos ouvindo o LP original em mono, escutar a versão digitalizada e ter a sensação de estar ouvindo outra coisa: faixas como This Thing Called Love ou I Love You Too com voz dobrada.
Ao contrário do que acontece na Europa, onde pequenos (porém eficientes) selos conseguiam direito para relançar material como esse — coletâneas de conjuntos dos anos 60 em geral ou discos esgotados e de importante valor histórico, aqui, por limitações comerciais e falta de visão (de interesse, eu diria) de mercado fizeram com que a única saída para a imensa maioria dos colecionadores fosse importá-los. Pelo menos, quando esse fenômenos tomou vulto, pelo começo dos anos 90.
Mesmo depois do advento da era do compact disc, a gravadora deles aqui (a EMI) não se interessou em lançar coletânea nenhuma do quarteto, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, com seus co-irmãos ingleses, o Herman's Hermits e os Hollies que, ao contrário dos Pacemakers, conseguiram fazer mais sucesso em terras brasileiras. Os Hermits, aliás, fizeram sucesso suficiente a ponto de realizarem uma turnê aqui, em 1970 — mas isso é assunto para outra post...
No caso do Gerry And The Pacemakers, além do fato dos dois LPs aqui lançados permanecerem fora de catálogo, as únicas coletâneas que apareceram são de material "frio", ou seja, regravado pelo próprio conjunto, nos anos 80 (com outra formação, embora as capas enganem) e que saiu no Brasil pela extinta Brasidisc, um dos poucos selos — senão o único — que se interessou em se debruçar sobre esse material perdido dos anos 60 (e 50), mas que teve vida curta, já que ela acabou sob os escombros de um incêndio na própria fábrica, nos anos 90.
Ferry Cross The Mersey foi, sem dúvida, o ápice criativo do quarteto inglês. Marsden, o compositor da banda, queimou pestanas porque teve que fazer toda a parte deles no tocante à trilha sonora do filme. A história ia se passar em Liverpool. Reza a lenda que ele ficava por horas a fio diante do Mersey, buscando inspiração para a música tema. E nada.
Cartaz do filme
Ela acabou surgindo inesperadamente num átimo, quando ele estava no volante do seu carro, esperando a namorada para jantar. Saiu correndo para casa, com cara de "eureka", pegou a guitarra, lápis e papel, e assim nasceu Ferry Cross The Mersey, certamente a sua canção mais famosa — principalmente aqui no Brasil. No enbalo, ele escreveria as outras nove (apenas nove entrariam na película). O outro sucesso — e canção que abre o musical, é It's Gonna Be Alright (outro grande sucesso aqui, em 1965), e que teve a honra de ser regravada em versão brasileira pelo Renato e Seus Blue Caps (Você Não Soube Amar).
A música nada mais é que uma sublime declaração de amor àquela cidade, que fica ao noroeste da Inglatera, à margem esquerda do estuário do famoso rio. Os ferry boats, que fazem parte da moerna paisagem natural da cidade, realizam o transporte entre o Pier Head, em Liverpool e Woodside e Wallasey, do outro lado do Mersey.
People around every corner
They seem to smile and say
We don't care what your name is boy
We'll never turn you away
So I'll continue to say
Here I always will stay
So ferry 'cross the Mersey
'cause this land's the place I love
Ferry Cross The Mersey foi o ápice dos Pacemakers porque, depois da primeira onda da British Invasion, o pop mudou, e o quarteto de Gerry não conseguiu emplacar mais nada nas paradas ianques.
A Columbia (o selo deles na Inglaterra) não se interessou em lançar um terceiro álbum e muito do que foi lançado posteriormente por eles (em singles), junto com material esparso de EPs viraram discos "póstumos" nos Estados Unidos e, principalmente, no Canadá — onde a Laurie chegou a lançar um quarto disco, o Girl On a Swing, que não saiu em nenhum outro lugar do planeta. em 1966, o Gerry and The Pacemakers acabou, junto com toda a cena de Liverpool que emergeu lá por 1961-2 e que havia ganhado o mundo.
Os Pacemakers entraram no filme com apenas nove músicas porque a trilha sonora dos Frenéticos do Ritmo fechava em doze temas sendo, fora estas, um instrumental, a cargo da orquestra de George Martin (sim, ele era o produtor deles), a interessante All Quiet On The Merseyfront, uma com Cilla Black (uma das clássicas burtbacharachetes, Is This Love) e The Fourmost (I Love You Too). Na edição americana da trilha do filme, Cilla (que seria a primeira intérprete de Alfie) e o Fourmost foram suprimidos em favor de artistas de lá, e a capa original — com Marsden posando diante do rio Mersey sob um plúmbeo céu de chumbo — por uma capa sem graça, com uma foto da banda tocando no Cavern Club.
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Thank you.
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