segunda-feira, 3 de maio de 2010

American Pie


A Capa



Don McLean era um pequeno entregador de jornais
naquele começo de 1959 quando, por ironia do destino, teve a dolorosa incumbência de distribuir o jornal que anunciava a morte do seu maior ídolo, o guitarrista texano Buddy Holly, que havia desaparecido num acidente aéreo junto com mais outros dois músicos, o também guitarrista Ritchie Valens e o disc-jockey Big Bopper, que fazia muito sucesso nas rádios dos Estados Unidos com uma canção intitulada Chantilly Lace.

Uma década depois, aquele invernal e trágico 3 de fevereiro entraria para a história como o “dia em que o rock morreu”. Junto com Holly, toda uma época desapareceria com ele. Chuck Berry foi parar na cadeia, Jerry Lee Lewis nos tribunais, Elvis Presley foi para o Exército, Gene Vincent no hospital, Little Richard virou pastor e Eddie Cochran pegaria o rumo daqueles três músicos que pegaram carona com a morte no Beechcraft Bonanza em Clear Lake.

Toda a inocência e o ouriço do rock dos anos 50 desapareceu e só ressurgiria alguns anos depois, com os Beatles. Nesse meio tempo, McLean passou a se interessar pelo folk que renasceu com a volta dos Weavers num concerto histórico no Carnegie Hall, em 1955 (passados aqueles anos negros da perseguição promovida pelo Macartismo). Junto com uma nova geração, ele passou afrequentar o circuito da boemia folk sessentista, ao lado de gente como Pete Seeger (membro dos Weavers) Jim Croce e todo o pessoal que freqüentava o Greenwich Village e o Festival de Newport. Contudo, Don só chegaria ao disco em 1968, com Tapestry, lançado por um selo inexpressivo que, no entanto, foi comprado por uma gravadora maior, a United Artists.

Por uma feliz coincidência, ele conseguiu visibilidade suficiente para divulgar sua música em seu momento mais criativo. Embotado por aqueles anos politicamente adversos, no começo dos anos 70, naquela ciranda de protestos, guerra e convulsão social, McLean teve um refluxo proustiano: lembrou-se de quando era um garoto e compôs um hino que é um adeus à inocência, ao mesmo tempo em que, no meio daquela realidade cinzenta, ele se debruçou no tempo imemorial dos seus sonhos de infância. O ponto de partida foi aquele 3 de fevereiro.

A música era American Pie, que dá nome ao seu segundo álbum.

Em oito minutos, a partir do desaparecimento de Holly (que não é citado na letra), ele repassa tudo o que se passou a partir dali numa narrativa dylanescamente impressionista e plena de citações simbólicas a misturar o sagrado e o profano, que o próprio McLean nunca quis explicar — fato que deu margem à dezenas de interpretações.

Na letra, depois do começo lento, depois de citar do acidente, a música se agita e ele entra num turbilhão onde enfeixa visões, eventos, nomes apócrifos, escatologia, fala de bailes ginasiais, de reis, rainhas, a garota que cantava o blues (a Janis Joplin?), bucólicos idílios, James Dean, O Capital (Marx), “Helter Skelter” (os Beatles?), pássaros viando milhas acima (os Byrds?), a Santíssima Trindade. No fim, ele diz que entrou numa loja (de discos) e pediu para que tocassem aquele rock antigo.

O dono da loja simplesmente diz que ela não podia se tocada. E ele cria uma patética imagem de silêncio e de dor em que “as crianças choravam, os poetas sonhavam, os amantes suspiravam, os sinos da igreja estavam partidos, os deuses partiram num comboio para o sul” — e a canção termina com a mesma malancolia com que começou. Sem querer (ou não), American Pie causou uma catarse no público americano.

Ou melhor, um nostálgico fluxo de consciência de retorno à inocência de um tempo perdido na mamória e no esquecimento de um país sufocado pela guerra no Extremo Oriente, que se arastava por mais de uma década, fora a convulsão social instaurada dentro da Sociedade Civil ianque naqueles idos de 1971.

E, a despeito de soar um tanto obscura, American Pie provocou um revival dos anos 50 sem precedentes e, com outra excelente canção, Starry Night, uma brla homenagem à Van Gogh, ela levou Don McLean ao topo das paradas naquele verão de 1971.



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Um comentário:

Anônimo disse...

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