segunda-feira, 26 de abril de 2010
O Pierre Boulez do rock
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Gênio incompreendido até hoje, Frank Zappa é o Pierre Boulez do rock. Não. Melhor. Ele é o Igor Stravinsky do rock, com toda a certeza.
Ninguém foi capaz de misturar rhythm and blues, música erudita de vanguarda, música aleatória e free jazz com aquele conhecido gênero entronizado por Elvis Presley como ele. Freak Out! (1966), seu dèbut sonoro já era um pé no traseiro do bom mocismo musical-cultural sessentista (que se limitava talvez no máximo a aceitar que os Beatles pegassem na sua mão) com suas vinhetas malucas, seus duelos entre tonalismo e atonalismo, sua sonoridade sofisticada e crua, sua metalingüística sonora, seu extremo lavor de joalheiro em trabalhar faixas editando rolos com material ao vivo e de estúdio, orquestra de cordas e sopros, reelaboração de conceitos wagnerianos como o leitmotiv em seus discos (que ele particularmente chamava de “continuidade conceitual”), tudo ligeiramente invulgar para um artista que, via de regra, estava “apenas pelo dinheiro”.
Pois esse era o seu dilema: toda a piração fonográfica de Zappa comercialmente redundava em (quase) nada. Naquele momento histórico, o Mothers of Invention estava pagando um preço caro pelas suas crudelíssimas invencionices.
Ninguém via a cor do dinheiro. Mal comparando, era mais fácil convencer um fã dos Monkees a ouvir a Sagração da Primavera do que emplacar um disco seu nas paradas de sucesso. Insatisfeito com o estado das coisas, Frank dissolveu os Mothers e resolveu re-incursionar em novo trabalho solo (o primeiro fora Lumpy Gravy, de 1968).
Hot Rats é, basicamente, um projeto seu com Ian Underwood, o seu insígne factorum. O paradoxal é que, dada a situação delicada de ser um músico hermético e difícil para os ouvidos moucos das grandes massas, a lógica seria cair em fórmulas fáceis. Não foi o caso de Zappa.
Cercado de músicos de escol — da estirpe de Jean Luc Ponty, Shuggie Otis (outro gênio incompreendido até por ele mesmo), Max Bennett, Capitain Beefheart (nada mais natural, já que eram duas almas gêmeas e que já haviam trabalhado juntos antes dos Mothers) e Don Harris, entre outros, com o perdão da frase feita, Frank fechou a década com chave de ouro.
Arrojado e revolucionário, Hot Rats é um dos melhores discos de rock (?) instrumental de todos os tempos. A excelência do álbum passa por dois níveis: o primeiro, a construção milimétrica dos arranjos de cada faixa e a escolha dos timbres e cores tonais.
O segundo, o conhecimento enciclopédico de Zappa em dominar as mais insuspeitas técnicas de estúdio (aliando-se à isso o fato dele possuir à sua inteira disposição uma mesa de dezesseis canais, coisa que, na época, só o supracitado quarteto de Liverpool podia ter, e olhe lá) a seu favor — fruto de seus trabalhos anteriores. Isso sem contar com a engenharia de som e a tecnologia que ele tinha em suas mãos naquele momento. Um exemplo disso são as alterações rítmicas que ele faz em faixas como It Must Be a Camel (coloque no topo da sua lista do Last.fm!), onde Frank, que no começo da carreira foi baterista, usa e abusa de overdubs (técnica que consiste em mixar e sobrepor novos solos em cima de fitas já gravadas) tanto na percussão quanto em linhas de contrabaixo e metais.
Caótico? Nem um pouco. É por conta disso que nada ali é supérfluo: Na atmosfera de Hot Rats, tudo se complementa e ainda surrealisticamente emoldura as brilhantes cadências de Underwood, que cria memoráveis seções geniais de sopros, enquanto o subestimado guitarrista Zappa faz sua Gibson gemer como nunca (como em Willie The Pimp, que conata com a participação de Beefheart no único vocal do disco). Nem Stravisnky faria melhor.
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