terça-feira, 6 de outubro de 2009
Vereda Tropical
A famosa capa de Amor, de Eydie e o Los Panchos
Eydie Gorme é uma das cantoras mais legais que eu conheço. E é curioso perceber que ela tem uma carreira enorme cantando em inglês mas, pelo menos, aqui no Brasil, ela ficou eternamente lembrada por conta da sua colaboração com o Trio Los Panchos como crooner, em meados dos anos 60.
Nova-iorquina do Bronx, começou a carreira nos anos 50, a despeito do sucesso no mercado latino ser notório. Aliás, é curioso notar que ela parece duas ao mesmo tempo. A que canta na língua de Shaekespere com o seu marido, Steve Lawrence — uma espécie de Dick Farney piorado — e os dois LPs míticos que ela gravou com o Los Panchos. Bolero pode ser considerado um gênero piegas e brega por seus detratores mas, vamos combinar, cantar com o marido é mais brega ainda.
E o auge do sucesso da Eydie cantando em inglês foi até o começo dos anos 60. Gormé sempre foi crooner (aquele intérprete demodé que vivia em função de alguma big band, como na Era do Swing). Como cantora solo, ela é mais lembrada pela bizarra Blame It On Bossa Nova. O ápice no mercado ianque, por exemplo, foi um Grammy como melhor cantora com If He Walked Into My Life.
Contudo, se formos pensar bem, as duas são pouco lembradas do público latino. Mas se alguém citar Eydie cantando pérolas como Sabor a Mi, Piel Canela ou Luna Lunera, aí é impossível não associá-la ao gênero que a entronizou como uma das intérpretes mais expressívas, o bolero.
Gormé é um exemplo peculiar de como o gosto musical varia de continente para continente. Mais ou menos como aconteceu com Trini Lopez ou Nat King Cole, o repertório em espanhol sempre foi muito mais ouvido e apreciado.
A parceria com o Trio Los Panchos — com efeito o maior no estilo, pelo menos ao que concerne ao sucesso de público e de vendas de discos em todo o mundo. Despeito de possuir diversasas formações ao longo do tempo, seus membros originais eram Alfredo Gil, Chucho Navarro e Hernando Aviles. Fruto tardio da relação de amizade cultural entre as américas, dos tempos da Política da Boa Vizinhança, eles acabaram caindo no gosto dos ouvintes de várias gerações.
Questiúnculas políticas à parte, aqui no Brasil, bolero foi e sempre será cativo dessa especialidade musical. E, na esteira daquele tipo de material que hoje é mal e porcamente chamado de easy listening (até porque é de fácil audição mesmo), Eydie fez o crossover entre o seu garbo de cantora afinada com big bandas e o blend latino de um regional de bolero. Perfeito. Lançado em 1964, Amor até hoje é um dos discos mais fantásticos do gênero.
Melhor só a continuação, Mas Amor, de 1965. É mais do mesmo mas é tão bom quanto. Eu, particuylarmente, acho o segundo melhor que o primeiro, muito embora Amor tenha sido o mais famoso, a começar pela capa clássica, com Gormé sorindo com um blusão verde de gola rolê. É aquele tipo de disco que, sempre que eu vejo num sebo, acabo puxando para olhar capa, contracapa, olhar o estado do LP — fetiche de colecionador, fazer o quê...
Sabor A Mí acabou se tornando para ela uma espécie de signature song, ou, traduzindo mal, aquele tipo de canção que é a cara do intérprete e vice-versa. Mas quase todos os números que constam nos dos LPs podem ser consideradas como versões definitivas: La Ultima Noche, Historia de Un Amor (como se sabe, originalmente um tango) Vereda Tropical, Nosotros, No Te Vayas Sin Mi, Flores Negras, Desesperadamente ("Ven, mi corazón te llama,
¡ay! desesperadamente"), Guitarra Romana e Contigo en La Distancia.
Eydie gravou um disco muito interessante com Luiz Bonfá — Bonfá & Brazil — porém mais Bossa Nova e acabou não atingindo o mesmo sucesso da parceria com o Trio Los Panchos. Como se não bastasse o fato de que o estilo entronizado por Tom Jobim e João Gilberto nunca tenha sido lá comercial — mesmo em sua tera natal, ela ainda inventou de cantar em covers de BN em inglês e com seu consorte, a cópia barata do Dick Farney (brincadeira, gente), e nem o compositor de Manhã de Carnaval salvou a bolacha. Vá saber.
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