Mostrando postagens com marcador Beatles. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Beatles. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Get Back: o Eterno Retorno dos Beatles


A capa


O álbum dos Beatles que talvez seja
o mais controverso de todos é o Let It Be.

Desde que foi lançado, em 1970, os fãs da banda inglesa se dividem entre os menos ortodoxos, que apreciam o resultado final de maneira satisfatória e os enragés, que acreditam que a pós-produção, que foi deixada a cargo de Phil Spector, é um simulacro, um embuste, um sacrilégio com relação ao material original.

O produtor norte-americano foi escalado com o firme objetivo de salvar o material do malfadado projeto Get Back, que durou um mês, visando também um filme-documentário, como se sabe.

As sessões são, na verdade, um longo ensaio geral e pré-produção, que se dividiu entre os estúdios da Apple em Savile Row, e no Twickham, ambos em Londres. Os ensaios começaram no primeiro e as tomadas definitivas das gravações no primeiro.


No começo de fevereiro de 1969, depois de todo o desgaste que os Beatles tiveram em terminar os masters, misturando problemas pessoais e querelas financeiras dos próprios negócios do conjunto, eles escolheram Get Back e Don't Let Me Down para lançamento em single e engavetaram todo o resto: um mês de copião de filme e as demais canções.

Aquele mês de janeiro foi todo para a geladeira. O próximo objetivo era juntar os pedaços do que ficou, reintegrar George Martin como produtor e gravar um disco comme il faut: mais nada ao vivo, como era o espírito das sessões Get Back.

No entanto, um pouco antes de começar a trabalhar no que seria Abbey Road, John e Paul chamaram o engenheiro de som Glyn Johns. O objetivo do papo era solicitar e ele que montasse o que seria o disco que PODERIA SER o que, hoje, é o Let It Be.

O conceito "get back" era o que eles entendiam como um "retorno às raízes". Como nos Basement Tapes, os Fab Four queriam deixar o gravador ligado e tocar novas cantigas e velhos standards do rock e do R&B. A capa, a título de chiste, seria o "retorno": eles posariam (e posaram) para a capa no mesmo local onde tiraram as fotos do Please Please Me, num balcão da sede da EMI, em Manchester Square, Londres.

Capa e contracapa teriam sido inclusive criados, seguindo a mesma concepção gráfica do début do quarteto de Liverpool. Johns pegou os masters da EMI e emprestou à mixagem e à ordem das faixas algo que desse a impressão do que foram aquelas sessões: faixas interrompidas, false starts, conversações.


Numa versão, ele chegou a incluir Across the Universe, gravada um ano antes (ou seja, fora do contexto) já que John chegou a regravá-la (embora apenas como registro, como vemos no filme). a música seria depois inserida num disco-manifesto para o World wildlife Fund (WWF). O engenheiro chegou a gravar o resultado final em acetato e apresentar à dupla. O lançamento era previsto para julho, mas foi adiado para dezembro, junto com um especial de tevê, para não coincidir com o próprio lançamento de Abbey Road, que ia sair em setembro de 1969.

a idéia era boa - uma grande brincadeira. Porém, conscientes do nível a qual eles haviam chegado em termos de produção (com Martin) e com medo da reação da crítica (que havia recentemente detonado o filme Magical Mystery Tour), eles devem (muito provavelemnte) ter achado de bom tom protelar novamente a prensgem do tal álbum.

Em dezembro, os Beatles chamaram Johns novamente. Pediram a inclusão de Across the Universe e que Teddy Boy fosse retirada, porquanto Paul iria regravá-la em seu primeiro disco. George gravaria I Me Mine com McCartney e Ringo, pois John, àquela altura dos acontecimentos, havia viajado de férias e não iria mais voltar para a banda. Mesmo assim, o resultado final foi novamente rejeitado por eles.

No começo de 70, um ano depois do fim das gravações, os Beatles confiaram os masters à Phil Spector. Sofisticado, meticuloso e virtuosamente empírico em sua concepção de 'wall of sound', que marcou época nos mitológicos lançamentos da sua Philies, no começo dos anos 60, quando produziu Crystalls, Ben King, Ronettes e outros, sempre fazendo uso do engenho e arte de sua parede sonora, ele iria imprimir seu estilo naqueles masters, tendo carta branca para isso.

O resultado, que todos conhecem, é bestante diverso do projeto inicial. Faixas que foram totalmente gravadas ao vivo ganharam vários overdubs; falhas propositais foram maquiadas, ainda que mantando o espírito "ao vivo" , dentro do que todos veriam nas telas com o filme Let It Be, o novo nome da coisa.

Com o tempo, os detratores do disco passaram a acusar Spector de embalsamar e plastificar os Beatles. Os defensores do produtor entendem que ele foi reconcebido com vistas a ser um produto viável - do ponto de vista mercadológico. Ou seja, lançar um disco dos mesmos Beatles de Pepper's e Revolver de forma "desleixada", a rigor, seria um retrocesso, do ponto de vista musical.

Mas o que não se pode deixar de notar como excrescência em Let It Be é que Phil tirou o eco natural das músicas, alterou a velocidade de Across the Universe e pôs uma orquestra lounge em várias músicas. The Long And Winding Road, por exemplo, ganhou um coral anglicano que mais parece uma recepção de anjos no Pasraíso. Todavia, mesmo que McCartney tivesse ojeiriza ao resultado final da canção, ele sempre foi fiel ao arranjo final nas apresentações ao vivo.

Em 2000 a EMI anunciou o lançamento do Let It Be como ele deveria "ter sido". Á princípio, muitos pensaram que a gravadora iria finalmente cometer o chamado "erro crasso" de Spector e lançar o famoso Get Back do Glyn Johns (cujo acetato chegou a tocar em algumas rádios americanas na época, e, por conta disso, acabou sendo largamente pirateado desde então).


Ledo engano: o que chegou às lojas foi uma TERCEIRA versão, lançada em função do álbum oficial, e como uma edição especial, não seria (e não é) parte integrante da discografia oficial. Fica o curioso dilema: a primeira versão foi um erro. a segunda teria sido a emenda do soneto quebrado, e a terceira?

Deixo que o leitor-ouvinte do blog decida a questão e conclua por si mesmo qual versão é a melhor. Por hora, posto aqui, para quem ainda não conhece, a primeira versão do disco.


Link nos comentários.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

All Things Must Pass


Álbum completa 40 anos em novembro


Com uma média de uma faixa por disco, desde que começou a colaborar como compositor quando integrava os quadros de um time chamado The Beatles, todos os fãs dos Fab Four podiam conceber que George Harrison fosse tudo menos um músico prolífico.

Erraram. De largada, ao lançar o seu primeiro trabalho solo após a dissolução do quarteto de Liverpool (o primeiro foi Wonderwall, de 1968, trilha sonora original de um filme de mesmo nome), All Things Must Pass veio à lume como álbum triplo.

O fenômeno era explicável: sua produção musical era regular e constante, o problema era falta de espaço ao quebrar lanças com John Lennon e Paul McCartney nas gravações, que naturalmente tinham a primazia nos álbuns dos Beatles.



Por conta disso, muito do material do seu novo disco estava mofando na gaveta há algum tempo. A própria canção que dá nome ao álbum, por exemplo, chegou a ser gravada nas sessões de Let It Be.

It Isn’t a Pity datava de 1966, e teria — segundo Harisson — sido rejeitada por Lennon para gravação. I’d Had You Anytime era uma parceria com Bob Dylan (de quem coverizou If Not For You, de New Morning, o mais recente LP do compositor norte-americano, que contou com a participação do próprio Harrison nas sessões como guitarra-solo, mas que não seria registrada oficialmente em LP).



George perdeu a parceria com os Beatles, mas soube munir-se com uma vigorosa trupe de músicos, que ia e Alan White (do Yes) até Billy Preston, passando por Eric Clapton, Bobby Keys (o saxofonista oficial dos Rolling Stones), Klaus Voormann, Peter Frampton e Ginger Baker (2/3 do Cream já valeriam o disco...), tudo sob a batuta )pelo menos, em parte) do temido Phil Spector, que destilou o seu wall of sound em All Things Must Pass, deixando o disco encorpado e pesado, bem seu estilo que caracteriza o seu processo de trabalho como produtor.

Isso explica a seção acústica de My Sweet Lord, por exemplo, cuja introdução soa como se o ouvinte percebesse uma dezena de guitarras acústicas. A curiosidade ficou por conta do fato de que essa canção, a mais conhecida do álbum, foi acusada de ser plágio de He’s So Fine, sucesso de 1963 do conjunto The Chiffons.

A solução salomônica encontrada por Harrison para se livrar da acusação: comprou os direitos de He’s So Fine. No fim, até os Chiffons gravariam My Sweet Lord, embarcando na repercussão da polêmica envolvendo as duas canções.

Outra curiosidade: durante as sessões do disco, Eric Clapton se lembrou de quando ele conheceu a bela Ronnie Spector pela primeira vez, quando as Ronettes faziam enorme sucesso com Be My Baby. Reza a lenda (contada pelo próprio guitarrista) que Ronnie caiu de amores pelo destemido Slowhand, pelo simples e bizarro detalhe: para ele, ele era a cara de seu então marido, Phil.



Clapton achou que tudo não passasse de besteira da cantora, até que Eric finalmente conheceu Spector durante as gravações do All Things Must Pass. Foi quando ele descobriu que, de certa forma, eles eram ligeiramente parecidos. E também foi nessa insigne ocasião que o ex-guitarrista do Cream pediu ao produtor para que ele lhe ajudase nas sessões do seu primeiro disco solo.





Link nos comentários

domingo, 28 de março de 2010

A Jukebox de John Lennon


A Capa

Certa vez, eu vi um trecho de documentário no Youtube onde aparecia o criador do Lovin' Spoonful, John Sebastian, falando sobre a música Do You Believe In Magic e da relação dele com a música dos Beatles. Achei muito interessante, mas nunca parei para pensar do que se travava. Tempos depois, o site indisponibilizou o trecho do vídeo.

Esses dias, navegando na Internet, eu descobri de onde saíra aquele excerto de documentário: é uma produção de 2004 para o The South Bank Show, um programa de cultura produzido pela ITV de Londres. Aqui está a íntegra, que foi ao ar, na época:



A história é bastante curiosa: em 1965, o beatle John Lennon comprou uma jukebox portátil (uma espécie de Ipod do tempo das cavernas), com capacidade para quarenta compactos. Sempre que ele viajava ou saía em turnê, ele a carregava consigo. Um dia, ele se desfez dela e o aparelho — uma Swiss KB Discomatic — viajou mundo, até parar num leilão. Um colecionador, John Midwinter, produtor musical de Bristol, adquiriu a relíquia.

No fim da vida, ele desejou que a jukebox virasse tema de algum documentário. Dois produtores da ITV se encarregaram do projeto, Steve Jansen e Malcolm Gerrie. A idéia era pegar os quarenta singles que Lennon sempre escutava, a fim de analisar tanto o que o guitarrista dos Beatles apreciava naquele momento quanto para observar como o seu eclético gosto musical, que ia de Soul a R&B e rock dos anos 50 — e como esse gosto se refletia de forma seminal em sua criação artística.

A produção correu mundo para encontrar quem estava envolvido — dirertamente ou não, como Sting, por exemplo — com boa parte daquelas canções. Acharam de Jerry Leiber a Mike Stoller até Fontella Bass, Little Richard, Donovan, John Sebastian, Gary U.S. Bonds, Bobby Parker e Bruce Channel.

Desta forma, cada um respectivamente recebia a jukebox, no melhor estilo capelinha de condomínio, e aquilo gerava um fluxo de consciência que os permitia refletir sobre os bastidores daquelas gravações, seu contexto histórico/musical. As histórias são interessantes.

Por exemplo, Warch Your Step, de Bobby Parker, influenciou o criador de Help! no riff de I Feel Fine e no de Day Tripper. A harmônica reinitente de James Ray em If You Gotta Make a Fool of Somebody ou a de Bruce Channel em Hey Baby influenciou os Beatles em temas como Little Child ou Love Me Do.

A predileção de John por Turquoise, de Donovan (que está na juke), o fez se interessar por uma técnica mais acurada de fingerpicking no violão folk, e isso é visível no seu trabalho acústico no White Album, nas faixas Dear Prucence, Happiness Is a Warm Gun e Julia.

Assim como a maioria dos jovens ingleses do começo dos anos 60, mais especialmente os mods, Lennon se interessava por soul. Por conta disso, muito do acervo da Swiss KB Discomatic do ex-beatle é dedicado a discos da Stax e da Motown. De southern soul, ele tinha predileção por Booker T And The MCs, também por Wilson Pickett e Otis Redding. Os Beatles chegavam a fazer jams ao estilo dos MCs e isso é evidente na obscura 12-Bar Original (aparece no Anthology 2, de 1996), de 1965, que é uma paródia um tanto convincente de Green Onions, clássico de Booker T.

Da Motown, é possível observar que John era fascinado por Smokey Robinson e os Miracles (os Miracles foram o primeiro conjunto da Motown a lançar um elepê pela gravadora, e é representa a primeira geração do soul) e Marvin Gaye (que era músico de estúdio deles antes de se lançar solo em êxito, em 1962), além de Barret Strong — o criador de Money, o primeiro grande sucesso do selo de Chicago, no fim dos anos 50.

Money (que está na jukebox), como se sabe, era o cover preferido de 9 entre 10 bandas de Liverpool, e os Beatles estavam na lista; tanto que a gravaram, no With The Beatles, de 1963, que é, com efeito, o álbum da banda que tem mais influência desse material que Lennon ouvia.

A questão crucial é que, como muitos como Gary U.S. Bonds e Bobby Parker ficavam assombrados com o fato de que a maioria desse material de Rythym'n Blues americano, como Pickett, Timmy Tucker, Timmy Shaw (que constam no acervo de John) tocavam estritamente em rádios negras e não tinham visibilidade o suficiente para chegar aos ouvidos dos jovens britânicos. Ou seja, era curioso como, a despeito disso, essa nova música tanto chegava quanto fazia a cabeça da moçada inglesa.

E mais precisamente a de Liverpool, que tinha acesso aos discos porque esse material era contrabandeado e vendido nos cais da cidade desde os anos 50. John dizia que discos de Larry Williams (John era louco pela música dele, como se sabe), Little Richard, Gene Vincent (que aparece com o single Be-Bop-A-Lula), Elvis, Buddy Holly (que aparece na jukebox com Richard e Williams).

Mesmo contra a direção musical dos meios de comunicação em geral, foi justamente esse tráfego cultural Estados Unidos-Liverpool que permitiu que aparecesse a cena musical naquela cidade: enquanto o rock morria na América, ele renascia na Inglaterra, através daquele scompactos, que eram avidamente disputados.

Lennon também ouvia seus contemporâneos: deles, além de Donovan, aparecem Animals (Bring It On Home to Me), Isley Brothers (de onde sairia Twist And Shout), Contours, Paul Revere And The Riders, Bob Dylan (Positively 4th Street) e dois singles do Lovin' Spoonful: Do You Believe In Magic e Daydream. Outra citação interessante é o Big Three, que transformou Some Other Guy (Leiber-Stoller) em coqueluche nos pubs de Liverpool. Os Beatles cansaram de tocá-la no Cavern, e existem gravações dela — porém Leiber confessa não ter ouvido a versão dos fab-four.

Esse é o trecho que eu havia assistido do documentário: Sebastian comenta também era influenciado por soul porque, segundo o líder dos Spoonfuls revela que a introdução de Do You Believe In Magic é uma brincadeira em cima do começo de Heat Wave, da Martha Reeves And Vandellas! A comparação, que aparece na edição do vídeo, é perfeita de tão engraçadíssima.

Sebasatian, que também fala sobre Dylan, confessa que nasceu no coração do Village quando ocorreu a efervescência cultural do renascimento do folk, com os jovens que redescobriam os antigos menestréis do passado e reproduziam aquelas canções nos bares do bairro nova-iorquino e em Washington Square. Ali Dylan musicalmente nasceu, com Joan Baez, Jim Kwensky, Mamas And The Papas e tantos outros, que formaram uma geração de cantores/compositores que também influenciaram naturalmente os Beatles e se tornaram autores de suas próprias músicas.

O documentário se perdeu e reapareceu na Internet. Em 2004, a Virgin Music lançou um CD duplo com as famosas 40 canções que John Lennon carregava consigo em sua Swiss KB Discomatic. A lista das canções, que é memorável, é essa:

1. "In the Midnight Hour", Wilson Pickett
2. "Rescue Me", Fontella Bass
3. "The Tracks of My Tears", Smokey Robinson and the Miracles
4. "My Girl", Otis Redding
5. "1-2-3", Len Barry
6. "Hi-Heel Sneakers", Tommy Tucker
7. "The Walk", Jimmy McCracklin
8. "Gonna Send You Back to Georgia", Timmy Shaw
9. "First I Look at the Purse", The Contours
10. "New Orleans", Gary U.S. Bonds
11. "Watch Your Step", Bobby Parker
12. "Daddy Rollin' Stone", Derek Martin
13. "Short Fat Fannie", Larry Williams
14. "Long Tall Sally", Little Richard
15. "Money (That's What I Want)", Barrett Strong
16. "Hey! Baby", Bruce Channel
17. "Positively 4th Street", Bob Dylan
18. "Daydream", The Lovin' Spoonful
19. "Turquoise", Donovan
20. "Slippin' and Slidin'", Buddy Holly

Disco 2

1. "Be-Bop-A-Lula", Gene Vincent
2. "No Particular Place to Go", Chuck Berry
3. "Steppin' Out", Paul Revere & the Raiders
4. "Do You Believe in Magic", The Lovin' Spoonful
5. "Some Other Guy", The Big Three
6. "Twist and Shout", The Isley Brothers
7. "She Said, Yeah", Larry Williams
8. "Brown Eyed Handsome Man", Buddy Holly
9. "Slippin' and Slidin'", Little Richard
10. "Quarter to Three", Gary U.S. Bonds
11. "Ooh! My Soul", Little Richard
12. "Woman Love", Gene Vincent
13. "Shop Around", The Miracles
14. "Bring It on Home to Me", The Animals
15. "If You Gotta Make a Fool of Somebody", James Ray
16. "What's So Good About Goodbye", The Miracles
17. "Bad Boy", Larry Williams
18. "Agent Double-O Soul", Edwin Starr
19. "I've Been Good to You", The Miracles
20. "Oh I Apologize", Barrett Strong
21. "Who's Lovin' You", The Miracles


A duras penas, eu consegui compilar esse disco, que estava inacessível. Inclui nos arquivos Boot-leg, do Booker T (1964), que passa no filme mas não tem no disco, além de algumas canções que John certamente escutava em compacto: Anna, com Arthur Alexander (1962), You Can Depend On Me (1961), com os Miracles, que são os que mais aparecem na coleção do John, e To Know Him Is To Love Him, dos Teddy Bears (1959), música pela qual Lennon era aficcionado, e a gravou ela várias vezes, duas com os Beatles (Decca Tapes e Live at The BBC) e uma, solo (no Menlove Avenue).



Links nos comentários.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Off The Beatle Track


Paul McCartney, George Martin e George Harrison, em 1965

O disco Off The Beatle Track é o primeiro de uma série de álbuns temáticos que Sir George Martin realizou com a música dos Beatles. O produtor britânico, cujo nome está rigorosamente imbricado com o trabalho do quarteto de Liverpool, era originalmente maestro do pequeno selo Parlophone que, a partir dos anos 50, era especializado em música clássica. O máximo que a gravadora se permitia dentro do universo pop era gravar discos de humor, com gente como Peter Sellers e Shirley Abicair. Nos anos 60, Martin dedicidu que a Parlophone deveria investir num gênero que estava em profusão — o rock.

Foi através de Sid Coleman que ele travou contato com Brian Epstein, que era empresário de um grupo do gênero. através dele, George ficou sabendo que os quatro haviam sido limados da Decca/London, e pediu à Brian o tape que eles haviam gravado. Ao ouvir, Martin achou que eles estavam longe de serem promissores, mas viu algum arrojo de originalidade nos vocais de John Lennon e Paul McCartney — embora achasse que Paul soasse demasiadamente como um pastiche de Elvis.

quatro meses depois do enxcontro com Brian, Martin marcou uma sessão com os Beatles nos estúdios da Parlophone, em Abbey Road. George não participou da gravação, apenas deu o veredito, no fim. Achou que eles não tinham canções boas o suficiente, e sugeriu que eles gravssem um tema sob encomenda, How Do You Do It. Eles gravaram, mas não gostaram do resultado: não queriam cantar material alheio, dizendo que eles tinham o seu próprio repertório. "Nós temos esas canções aqui e queríamos gravá-las", disse McCartney a Martin, na ocasião. Ele tinha certeza que How Do You Do It estouraria — tanto que ela acabou chegando ao primeiro lugar, mas com outra banda empresariada por Epstein e produzia por George, o Gerry And The Pacemakers, em 1963.

Em resposta, insistiram em gravar Love Me Do e mostraram Please Please Me para Martin. A primeira canção (com P.S I Love You de lado B) foi lançada como balão de ensaio e se saiu bem nas paradas, chegando ao 17o lugar. O próximo passo era lançar Please Please Me. Martin não queria fazê-lo, e ainda queria que eles tocassem músicas sob encomenda — algo muito comum na época (mais do que hoje).

Contudo, diante da insistência de John e Paul, ele topou. Please Please Me chegou ao segundo lugar, e Martin começou a desconfiar que os Beatles eram promissores de fato. Mais do que isso, eles demonstraram que podiam ser mais do que meros intérpretes, compondo o seu próprio material e, de quebra, transformando a subestimada Parlophone numa máquina de sucessos dentro do pop, algo que ele ruminava há algum tempo, desde que ele produziu compactos do The Vipers Skiffle Group, em 1961.

O resto é história: o êxito comercial dos Beatles cresceu numa progressão fulminante. From Me To You chegou ao primeiro lugar, She Loves You também, e o corolário de tudo isso foi, como se sabe, o single I Want To Hold Your Hand, que foi o passaporte para que o quarteto tomasse a América de assalto, no começo de 1964, instaurando o que se convencionou chamar de... Beatlemania.


A capa

Foi no auge do sucesso 'americano' dos Beatles que George Martin produziu o primeiro disco com a sua assinatura — antes, ele havia lançado material próprio sobre pseudônimo — o Off The Beatle Track. Nada mais é que uma compilação de canções dos Beatles do começo da carreira.

Martin lançou o disco no lastro da produção das canções que ele havia gravado para a trilha sonora original do filme A Hard Day's Night que, no entanto, só foi lançado nos Estados Unidos e no Canadá. Na trilha, Martin criou arranjos interesantíssimos para And I Love Her (que virou um bolero) e Can't Buy Me Love (que ficou ligeiramente coltraneana, inspirada na versão do saxofonista americano para My Favourite Things) e This Boy que, no filme, viou o tema de Ringo (Ringo's Theme).

Em Off The Beatle Track, além de se render ao talento dos quatro garotos que ele outrora subestimara, ele elabora arranjos em seu estilo particular. Aqui, Can't Buy me Love virou um be bop requintado, Don't Bother Me, um twist e I Want To Hold Your Hand, um chá-chá-chá.

em 1965, no mesmo estilo de A Hard Day's Night, Martin também faria a trilha original do filme Help! e, é claro, o famoso (e controverso) lado B da trilha do filme Yellow Submarine, que nove entre dez beatlemaníacos detestam.





Link nos comentários.