sexta-feira, 1 de julho de 2011

Lovin' Spoonful - Revelation Revolution '69


A capa


No fim de 1966, o Lovin' Spoonful estava no auge: em abril, havia feito a trilha sonora do filme What's Up, Tiger Lilly?, de Woody Allen, em um ano havia empilhado uma série de singles memoráveis no Hot 100 da Billboard, incluindo Daydream, que havia chegado ao segundo lugar no gênero pop da revista. O ápice era o lançamento de Summer in The City, seu primeiro número 1. Naquele mesmo ano, eles haviam assinado com Francis Ford Coppolla para fazer a música de seu próximo filme, You're a Big Boy Now.

Era o topo do mundo: aquela banda formada em Washington Square, no coração do Village, em Nova Iorque, estava em vias de rivalizar com as bandas inglesas que outrora haviam deflagrado aquele movimento rock na América no rastro dos Beatles. Embora não vendessem tanto quanto deveriam (e mereceriam), o quarteto estava batendo de frente com os Byrds e os Beach Boys, estes os grandes rivais do quarteto de Liverpool.

Ou quase. Quando a banda mudou sua produção de Erik Jacobsen para Joe Wissert (que também era produtor dos Turtles) e iria fazer aquele que poderia ser a sua obra-prima, aconteceu um desastre: Zal Yanowsky, o guitarrista, foi preso portando maconha em San Francisco, da mesma forma como acontecera com Eric Palmer, do Buffalo Springfield.

Assim como Palmer, Zal era canadense. Foi ameaçado de deportação caso não entregasse o sujeito que lhe fornecera a droga. Coagido, Yanovski acabou entregando o traficante. Não foi deportado como Eric, mas ficou mal visto na cena musical. Sem alternativa, ele resolveu pegar o boné e voltar mais cedo para a sua terra natal. Era abril de 1968.

Foi um duro golpe para o Lovin' Spoonful. O quarteto era uma criação vital da dupla Zal e John Sebastian. Partindo da idéia de revitalizar o gênero folk rural típico das jugbands americanas, o espinha dorsal passava pela criação musical da dupla. Embora a idéia não fosse algo tão comercial à princípio, o amálgama com o rock dos Beatles foi o ingrediente necessário para guindá-los ao topo.

Quando as coisas mudaram, a partir de 1967, o som deles corria o risco de ficar datado, por não querer se misturar com o psicodelismo emergente ou porque o quarteto, ao contrário do som viajandão dos conjuntos californianos, o Lovin' Spoonful não tinha grandes pretensões como músicos e a exigência sobre eles era cada vez maior.

Sam Zal, a banda estava com os dias contados. O tempo foi abreviado pela saída de John Sebastian, em setembro de 1968, logo após o lançamento de Everything Playing. Em pouco mais de um ano, a força criativa do conjunto havia ido embora. Para substituí-lo, o escolhido foi o multi-instrumentista Jerry Yester, do Modern Folk Quartet e irmão de Jim Yester, do Association. À ele coube a incumbência de substituir o talento de Zal e John como músicos.

Substituí-los como instrumentista era uma coisa. Trazer aquele espirito elegantemente galhofeiro e bem humorado de Sebastian e Yanovaky, por outro lado, seria impossível. A linguagem do Lovin' Spoonful mudou. Com o baterista Joe Butler como líder (ele era uma das vozes do conjunto, em canções como You Baby, Old Folks e Full Measure, por exemplo) e agora transformado em trio, eles decidiram cair na onda hippie e lançar Revelation Revolution' 69.

Capitalizando um estilo que fazia a cabeça da juventude da época, mais afeita a sonoridade acústica de um Crosby, Stiils e Nash e do country pop ainda nascente como estilo musical, e que influenciava os Beatles, Stones, Tim Buckley, Fairport Convention, Pentangle, The Band e outros, eles abandonaram a galhofa dos tempos de jugband pop em favor de um country-rock essencialmente pop.




Se comparado com os melhores momentos do Lovin' Spoonful dos tempos de Do You Believe in Magic ou You Didn't Have to Be So Nice, é como se ouvissemos outro conjunto. Há alguns momentos interessantes, como Amazing Air, a bela Never Goin' Back, seu último sucesso comercial, Words ou Run with You, não é um disco de se jogar fora. Por outro lado, o disco é produzido por Joe e Yester, completado por músicos de estúdio. A pena de John e Zal também se faz ausente: a maioria das canções foram feitas sob encomenda, como Me About You, o derradeiro Billboard Hot 100 do quarteto.

Noves fora alguns arroubos minimalistas experimentalóides como War Games, que lembra de longe Revolution 9, dos Beatles, o Lovin' Spoonful não decepciona tanto como seus fãs costumam dizer. Essa injustiça com Revelation Revolution' 69, no entanto, é candente: o álbum sequer possui uma edição oficial em CD. Todas as versões existentes desse disco à disposição na Internet são ripados do vinil.

Injustiças à parte, a maior todas foi o fim abreviado do Lovin' Spoonful apenas um ano antes de Woodstock. Se John Sebastian não tivesse tentado uma carreira solo que não chegou a parte alguma, eles poderiam ter sido escalados para tocar no festival.

Como se sabe, John vivia lá, teve contato suficiente com os produtores a ponto de conseguir tanto assistir aos shows dos bastidores quanto a fazer um inesperado show surpresa no sábado. Se formos levar em conta o sem número de deserções na hora de escalar os artistas, é triste pensar que, mesmo que seus dias estivessem contados, por pouco talvez o Lovin' Spoonful não pôde acabar pelo menos em grande estilo.



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